Todo mundo quer seu pedaço dos holofotes. Seja a padaria da esquina, a startup que promete revolucionar o mercado ou aquele evento cultural que vai, supostamente, mudar a cara da cidade. Em Belo Horizonte, não é diferente. A capital mineira, com sua mistura peculiar de tradição e inovação, tem uma mídia efervescente, mas, convenhamos, conseguir um espaço ali não é para amadores. E se você acha que basta enviar um e-mail com “notícia bombástica”, sinto dizer: o buraco é bem mais embaixo.
Como jornalista com uma boa década e meia de asfalto sob os pés, já vi de tudo. Desde releases que fariam um monge tibetano perder a paciência até histórias que, de tão bem contadas, viraram capa de jornal. A verdade é que aparecer na mídia, especialmente em BH, não é sobre sorte. É sobre entender as engrenagens, ter algo realmente relevante para dizer e, acima de tudo, respeito pelo tempo – e pelo trabalho – de quem está do outro lado da pauta.
O Que Faz uma Notícia, Afinal? O X da Questão
Vamos ser francos: a maioria das pessoas que buscam a mídia não tem uma notícia. Têm um anúncio. E existe uma diferença abismal entre os dois. Um anúncio é pago, controlado, promocional. Uma notícia é informação relevante, com interesse público, que impacta ou entretém. Ela não está à venda.
Para um veículo de comunicação em Belo Horizonte – seja um dos grandes jornais, um portal online com milhões de acessos ou até mesmo as rádios comunitárias que alcançam o povo da periferia –, o que importa é o que ressoa com o leitor, ouvinte, espectador. Pense comigo: quem se importa que sua loja está fazendo 20 anos? Ninguém. Mas se sua loja, em 20 anos, gerou 500 empregos diretos, revitalizou um bairro degradado ou criou um produto que está ajudando pessoas com uma doença rara, aí, meu amigo, a conversa muda. É o impacto, a inovação, o inusitado que fisga o jornalista.
Nas filas dos bancos e nas conversas de padaria em BH, o assunto é um só: a vida real. Inflação, trânsito, a novela, o Galo, o Cruzeiro. Seu negócio ou sua ideia precisa se encaixar nessa conversa. Tem que ter um gancho. Algo que faça o editor parar no meio de um café e pensar: “Isso aqui pode dar uma boa matéria.”
Tabela: O que um jornalista busca (e o que ignora)
Busca | Ignora |
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Novidade ou Inovação | Lançamento de produto sem diferencial |
Relevância Local (BH) | Notícias genéricas, sem conexão com a cidade |
Impacto Social/Econômico | Comercialização pura e simples |
Histórias de Pessoas (Superação, Curiosidade) | Notas “chapa branca” sem valor noticioso |
Fontes Confiáveis e Disponíveis | Contatos que insistem demais ou não respondem |
A Ponte Essencial: Construindo Relacionamentos na Imprensa Mineira
Esqueça a ideia de que um e-mail genérico, disparado para uma lista fria, vai abrir portas. Em Belo Horizonte, a relação é, muitas vezes, construída no café, no evento, numa ligação rápida. É preciso conhecer quem faz o quê. Qual repórter cobre sua área? Qual editor está mais aberto a matérias de impacto social? Qual coluna no jornal local se alinha com o que você tem a dizer?
Essa é a parte que muita gente pula. Não basta ter a notícia; é preciso saber a quem contá-la. E, mais importante, como. Jornalistas são bombardeados diariamente. Para se destacar, sua abordagem precisa ser profissional, direta e, acima de tudo, respeitosa com o tempo alheio. “Olha, é… é complicado. A gente trabalha, trabalha, mas o poder de compra, sabe? Parece que não sai do lugar”, desabafa Carlos, motorista de aplicativo, que, sem querer, me deu uma matéria sobre o impacto da gasolina nos pequenos negócios.
Uma boa assessoria de imprensa local pode ser um atalho, sim. Mas não é uma bala de prata. O trabalho da assessoria é facilitar essa ponte, traduzir sua mensagem para a linguagem jornalística e identificar os melhores canais. Mas o conteúdo, o “filé”, esse tem que vir de você.
O Velho e Bom Release: Menos é Mais, E Bem Feito
O press release, ou simplesmente “release”, ainda tem seu valor. Mas ele precisa ser cirúrgico. Imagine o seguinte cenário: um jornalista de Belo Horizonte chega ao escritório às 8h da manhã. Na caixa de entrada, 200 e-mails não lidos. O que faz ele abrir o seu? Um título claro, direto e que, de cara, mostre o que é relevante ali. Nada de enrolação.
Um bom release tem:
- Título Impactante: Não anuncie, noticie!
- Lide (Primeiro Parágrafo): Responda as seis perguntas clássicas: Quem? O Quê? Quando? Onde? Como? Por Quê? O essencial tem que estar ali.
- Desenvolvimento Conciso: Detalhes relevantes, citações curtas e diretas de porta-vozes.
- Serviço: Se for um evento, data, hora, local, ingressos, contato.
- Contato para Imprensa: Nome, telefone, e-mail de alguém que realmente vai atender e ter as informações.
E, por favor, nada de arquivos gigantes anexados, PDFs pesados ou formatações mirabolantes. Texto simples no corpo do e-mail é o ideal. Se tiver fotos, envie um link para um drive. Simplifique a vida do jornalista.
Além do Release: Histórias Que Vendem
Nem toda grande matéria nasce de um release. Muitas vêm de conversas informais, de eventos bem organizados, de dados surpreendentes que alguém “deixou escapar” numa entrevista. Pense em como sua história pode ser contada de outras formas:
- Evento Relevante: Lançamentos, feiras, workshops, debates. Se for algo que traga gente para a cidade, melhor ainda. A Prefeitura de BH vive de olho nisso.
- Especialista no Assunto: Você domina um tema? Ofereça-se como fonte para matérias genéricas. “O mercado de criptomoedas em BH está em alta? Posso falar sobre isso.” Construa sua credibilidade.
- Dados Inéditos: Pesquisas, levantamentos, tendências. Jornalista adora um bom número que explique uma realidade.
- Histórias Humanas: Se seu negócio impacta vidas de forma significativa, se há uma história de superação, de solidariedade, de inovação social por trás, conte-a. Essas são as que tocam o público.
Em Belo Horizonte, por exemplo, o movimento das startups sempre gera interesse. Não apenas o investimento, mas as pessoas por trás das ideias. As dificuldades, as vitórias. É uma história de gente, não de planilha.
Os Erros Primários (E Que Continuam Sendo Cometidos)
E aqui, a lista do que não fazer, para evitar que sua pauta vá parar na lixeira digital:
- Irrelevância: Mandar algo que não tem o menor apelo jornalístico. “Meu cachorro fez aniversário, vem cobrir?” Não, não vamos.
- Perseguir o Jornalista: Ligar dez vezes no mesmo dia. Mandar e-mail a cada hora. Isso não gera atenção, gera bloqueio.
- Falta de Preparo: Não ter as informações básicas na ponta da língua. “Ah, não sei a data exata, vou confirmar.” Perdeu a chance.
- Exageros e Mentiras: Embelezar demais a história ou, pior, inventar dados. A credibilidade de um jornalista é tudo. Se você miná-la, estará queimado para sempre.
- Falar em “Exclusividade” Quando Não É: Oferecer uma “exclusiva” para 15 veículos diferentes ao mesmo tempo. A notícia corre rápido. E a decepção também.
Aparecer na mídia em Belo Horizonte não é mágica. É uma mistura de paciência, estratégia, bom senso e, claro, ter algo que realmente valha a pena ser contado. É como garimpar ouro: você precisa cavar muito, peneirar, mas, quando encontra a pepita, o esforço vale a pena. No fim das contas, a imprensa quer histórias. Se a sua for boa e bem contada, as portas se abrem.